Era uma manhã normal de quarta-feira, meus filhos estavam na escola e meu marido no escritório, eu havia terminado todas as minhas tarefas mais cedo e decidi assistir Black Mirror na Netflix. Este episódio chamado “Arcanjo” me fez questionar muitas coisas sobre o meu papel de mãe.

Este episódio gira em torno da história de uma mãe (Marie) que coloca a sua filha (Sara) em um programa experimental de monitoramento chamado Arcanjo. Por meio do programa, Marie podia monitorar a saúde física, emocional ou sofrimento mental de Sara causado por estímulos externos, e ouvir e assistir ao que ela está ouvindo ou assistindo. Marie também podia filtrar coisas que pudessem causar sofrimento mental ou emocional à Sara no tablet recebido após um circuito ter sido injetado na cabeça de Sara. Eu sugiro que você assista a esse episódio para ver o que acontece, principalmente se você estiver utilizando softwares de monitoramento parental como o XNSPY.

Marie está preocupada, basicamente, com a segurança de sua filha, como a maioria de nós. Quando se trata de filhos, nós nos certificamos de não deixar nada passar, afinal para que servem as mães se não para se preocupar com o bem-estar da existência de seus filhos. Por isso, ela presumiu que por meio do programa ela poderia estar no controle a todo momento, especialmente quando estivesse no trabalho. A ideia no começo do episódio me deixou animada e imaginei como seria fácil cuidar de tudo o que me preocupa. Mas conforme o episódio progride, nós vemos Sara confusa. Sua mãe filtrou todas as coisas ruins de sua visão. Ela não podia ver conteúdo para maiores de 18 anos e violência; basicamente, qualquer coisa que lhe causasse sofrimento emocional seria desfocada. Ao crescer com esse filtro, ela foi ficando mais vez mais frustrada já que a maior parte das coisas a sua volta não eram visíveis para ela. Mesmo quando um amigo tentava lhe mostrar algum conteúdo violento e pornográfico ela não conseguia ver. Tal curiosidade e confusão a levaram a automutilação. Foi então que Marie, sua mãe, percebeu que precisava se livrar do seu dispositivo de monitoramento e permitir que Sara vivesse o mundo como ele é.

Sara faz 15 anos na série, mesmo que a atriz fazendo a personagem pareça ter 25, e começa a ir a festas com seus amigos e mentir sobre uma festa na praia com amigos homens, o que é um comportamento normal de adolescentes. Não me diga que você nunca mentiu para os seus pais quando era jovem. De qualquer forma, quando Marie tenta entrar em contato com a filha ela não consegue. Ela liga para um amigo de Sara e descobre que ela mentiu sobre ir ver um filme com as meninas na casa de uma amiga. Preocupada com a segurança da filha, Marie retira o tablet de monitoramento de onde ele estava guardado. Ela o liga e descobre que Sara está em segurança, mas ela também tem acesso à visão de Sara e descobre que ela está engajada em ações não muito apropriadas com um rapaz que ela nunca viu antes. Quais são as chances de isso acontecer? Coloque-se no lugar de Marie vendo a sua filha assim. Perturbador! De qualquer forma, a sua filha finalmente volta para casa e vai direto para o quarto. A partir daí, Marie decide manter o tablet de monitoramento ligado porque ela acha que a sua filha não está sendo honesta e pode se colocar em uma situação perigosa.

Por meio do dispositivo, Marie descobre que o rapaz que a sua filha está namorando é uma má influência para ela porque ele é traficante de drogas. Ele não é viciado e nunca ofereceu drogas à Sara. Apesar disso, quem gostaria de ver a sua filha namorando um traficante? De qualquer forma, Sara queria experimentar drogas e forçou o rapaz a permitir que ela experimentasse e após fazer muito para convencê-lo, ele cedeu. Sua mãe achou que ele estava forçando Sara a usar aquelas coisas e decidiu falar com ele e ameaçá-lo para que ele deixasse sua filha em paz ou ela o denunciaria à polícia já que tinha provas em seu tablet de que ele traficava drogas. Marie não pensou nem uma vez em conversar com a sua filha. Ela simplesmente decidiu cuidar das coisas sozinha. Ela falhou em perceber que a sua filha estava crescendo e ela poderia conversar diretamente com ela. De qualquer forma, quando o namorado começou a ignorá-la, Sara ficou frustrada. Ela tentou falar com ele, mas ele disse que não queria nada com ela. Isso partiu o coração de Sara. Durante todo esse transtorno emocional, Marie não fez nada para oferecer suporte emocional para Sara e achou que estava fazendo a coisa certa.

No final do episódio, nós descobrimos que Sara estava grávida e sua mãe adicionava remédios para terminar a gravidez à sua vitamina diária. Sara também percebeu que sua mãe havia religado o seu dispositivo de monitoramento e descoberto todos aqueles vídeos em que ela e o seu namorado faziam o que ninguém deseja que os pais descubram. Quando sua mãe voltou para casa, Sara a confrontou. Sua mãe tentou explicar, mas Sara sentiu que sua mãe a traiu. Ela culpou Marie por tudo que aconteceu com ela. Ela não conseguia compreender se a pessoa que a monitorava era sua mãe ou inimiga, e sem entender o que estava acontecendo começou a bater na mãe com o tablet. O tablet começa a apresentar defeitos e o filtro volta a funcionar, e Sara não consegue mais perceber que está batendo tanto em sua mãe que seu rosto está sangrando. Neste momento, eu achei que ela estivesse morta. Conforme o dispositivo desliga completamente, o filtro continua ligado e ela não consegue ver o que fez com a mãe porque o filtro desfoca o sangue e por alguma razão ela pega as suas coisas e foge. Marie se levanta das cinzas e tenta ir atrás de Sara, mas ela desaparece.

Conforme entendemos o enredo, nós vemos como a tecnologia do futuro tem o potencial de estragar tudo. Mas conforme mergulhamos nisso, nós devemos observar que a tecnologia Arcanjo não era o problema, e sim a seleção de escolhas de Marie. Toda tecnologia tem os seus prós e contras; isso depende de como nós iremos usá-la. Por isso, se Marie tivesse criado alguns limites para ela ao monitorar sua filha, Sara não teria se tornado uma psicopata.

Na minha opinião, Marie falhou como mãe. Ela pensou que poderia ser uma mãe melhor com a ajuda da tecnologia, mas apenas piorou as coisas para ela a longo prazo. Se ela tivesse usado o programa corretamente, isso poderia ser bem-sucedido, mas honestamente, as mães não pensam racionalmente quando se trata de filhos. Eu poderia cometer os mesmos erros estúpidos que ela se tivesse a chance, mas já que não tenho, vou desfrutar da liberdade de criticar o seu monitoramento parental.

Como pais, nós todos podemos concordar que não sabemos o que estamos fazendo, mas tentamos dar o nosso melhor. Todos nós temos os nossos jeitos de monitorar nossos filhos, mas nesta área digital, nós também podemos nos encontrar no lugar de Marie. Ela estava preocupada apenas com a segurança de sua filha quando não sabia onde ela estava que decidiu ligar o tablet de novo. Se ela tivesse checado apenas os sinais vitais e a localização de Sara, ela teria deixado a filha em paz e falado com ela diretamente quando ela chegasse. Ao invés disso, ela foi longe demais. Tão longe que até descobriu sobre a gravidez da filha sem ela saber e agiu para terminá-la. Eu sei que ela queria proteger a sua filha, mas existem algumas fronteiras éticas. Você não pode proteger seus filhos. Você precisa ensiná-los a lidar com seus problemas e ajudá-los a entender a diferença entre o que é certo e errado ao invés de filtrar as duras realidades da vida; do contrário, o monitoramento parental pode se virar contra você igual aconteceu com a Marie.

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